Tenho de partilhar este texto pois não poderia concordar mais com esta opinião.
Felizmente, obtive a minha dependência muito cedo e NUNCA precisei dos meus pais para pagar as minhas contas por muitas dificuldades que tenha tido. Tudo (ou o pouco) que tenho hoje foi pago com o meu ordenado, que mereço por me esforçar, por ser assídua e dedicada.
Talvez por isso fico intrigada quando vejo pessoas com a minha idade completamente dependentes dos pais para tudo, seja para ir tratar do cartão e cidadão, para pôr o carro na oficina, entregar o IRS, and so on, e que depois exigem ipods, ipads e iphones só porque sim.
Também é verdade que na minha juventude os meus pais me deram tudo. Mas só me davam se eu merecesse por bom comportamento ou por boas notas. Hoje em dia, dá-se tudo aos filhos para compensar o tempo que não se está em casa, que não se brinca, que não se acompanha os estudos...
"Um dia, isto tinha de acontecer.
Existe uma geração à rasca?
Existe mais do que uma! Certamente!
Está à rasca a geração dos pais que educaram os seus meninos numa
abastança caprichosa, protegendo-os de dificuldades e escondendo-lhes as agruras da vida.
Está à rasca a geração dos filhos que nunca foram ensinados a lidar
com frustrações.
A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem (e também
estão) à rasca são os que mais tiveram tudo.
Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada na sua infância
e na sua adolescência. E nunca a sociedade exigiu tão pouco aos seus
jovens como lhes tem sido exigido nos últimos anos.
Deslumbradas com a melhoria significativa das condições de vida, a
minha geração e as seguintes (actualmente entre os 30 e os 50 anos)
vingaram-se das dificuldades em que foram criadas, no antes ou no pós
1974, e quiseram dar aos seus filhos o melhor.
Ansiosos por sublimar as suas próprias frustrações, os pais investiram
nos seus descendentes: proporcionaram-lhes os estudos que fazem deles
a geração mais qualificada de sempre (já lá vamos...), mas também lhes
deram uma vida desafogada, mimos e mordomias, entradas nos locais de
diversão, cartas de condução e 1º automóvel, depósitos de combustível
cheios, dinheiro no bolso para que nada lhes faltasse. Mesmo quando as
expectativas de primeiro emprego saíram goradas, a família continuou
presente, a garantir aos filhos cama, mesa e roupa lavada.
Durante anos, acreditaram estes pais e estas mães estar a fazer o
melhor; o dinheiro ia chegando para comprar (quase) tudo, quantas
vezes em substituição de princípios e de uma educação para a qual não
havia tempo, já que ele era todo para o trabalho, garante do ordenado
com que se compra (quase) tudo. E éramos (quase) todos felizes.
Depois, veio a crise, o aumento do custo de vida, o desemprego, ... A
vaquinha emagreceu, feneceu, secou.
Foi então que os pais ficaram à rasca.
Os pais à rasca não vão a um concerto, mas os seus rebentos enchem
Pavilhões Atlânticos e festivais de música e bares e discotecas onde
não se entra à borla nem se consome fiado.
Os pais à rasca deixaram de ir ao restaurante, para poderem continuar
a pagar restaurante aos filhos, num país onde uma festa de
aniversário de adolescente que se preza é no restaurante e vedada a pais.
São pais que contam os cêntimos para pagar à rasca as contas da água e
da luz e do resto, e que abdicam dos seus pequenos prazeres para que
os filhos não prescindam da internet de banda larga a alta velocidade,
nem dos qualquercoisaphones ou pads, sempre de última geração.
São estes pais mesmo à rasca, que já não aguentam, que começam a ter
de dizer "não". É um "não" que nunca ensinaram os filhos a ouvir, e
que por isso eles não suportam, nem compreendem, porque eles têm
direitos, porque eles têm necessidades, porque eles têm expectativas,
porque lhes disseram que eles são muito bons e eles querem, e querem,
querem o que já ninguém lhes pode dar!
A sociedade colhe assim hoje os frutos do que semeou durante pelo
menos duas décadas.
Eis agora uma geração de pais impotentes e frustrados.
Eis agora uma geração jovem altamente qualificada, que andou muito por
escolas e universidades mas que estudou pouco e que aprendeu e sabe na
proporção do que estudou. Uma geração que colecciona diplomas com que
o país lhes alimenta o ego insuflado, mas que são uma ilusão, pois
correspondem a pouco conhecimento teórico e a duvidosa capacidade
operacional.
Eis uma geração que vai a toda a parte, mas que não sabe estar em
sítio nenhum. Uma geração que tem acesso a informação sem que isso
signifique que é informada; uma geração dotada de trôpegas
competências de leitura e interpretação da realidade em que se insere.
Eis uma geração habituada a comunicar por abreviaturas e frustrada por
não poder abreviar do mesmo modo o caminho para o sucesso. Uma geração
que deseja saltar as etapas da ascensão social à mesma velocidade que
queimou etapas de crescimento. Uma geração que distingue mal a
diferença entre emprego e trabalho, ambicionando mais aquele do que
este, num tempo em que nem um nem outro abundam.
Eis uma geração que, de repente, se apercebeu que não manda no mundo
como mandou nos pais e que agora quer ditar regras à sociedade como as
foi ditando à escola, alarvemente e sem maneiras.
Eis uma geração tão habituada ao muito e ao supérfluo que o pouco não
lhe chega e o acessório se lhe tornou indispensável.
Eis uma geração consumista, insaciável e completamente desorientada.
Eis uma geração preparadinha para ser arrastada, para servir de
montada a quem é exímio na arte de cavalgar demagogicamente sobre o
desespero alheio.
Há talento e cultura e capacidade e competência e solidariedade e
inteligência nesta geração?
Claro que há. Conheço uns bons e valentes punhados de exemplos!
Os jovens que detêm estas capacidades-características não encaixam no
retrato colectivo, pouco se identificam com os seus contemporâneos, e
nem são esses que se queixam assim (embora estejam à rasca, como todos nós).
Chego a ter a impressão de que, se alguns jovens mais inflamados
pudessem, atirariam ao tapete os seus contemporâneos que trabalham
bem, os que são empreendedores, os que conseguem bons resultados
académicos, porque, que inveja!, que chatice!, são betinhos, cromos
que só estorvam os outros (como se viu no último Prós e Contras) e,
oh, injustiça!, já estão a ser capazes de abarbatar bons ordenados e a
subir na vida.
E nós, os mais velhos, estaremos em vias de ser caçados à entrada dos
nossos locais de trabalho, para deixarmos livres os invejados lugares
a que alguns acham ter direito e que pelos vistos - e a acreditar no
que ultimamente ouvimos de algumas almas - ocupamos injusta, imerecida
e indevidamente?!!!
Novos e velhos, todos estamos à rasca.
Apesar do tom desta minha prosa, o que eu tenho mesmo é pena destes jovens.
Tudo o que atrás escrevi serve apenas para demonstrar a minha firme
convicção de que a culpa não é deles.
A culpa de tudo isto é nossa, que não soubemos formar nem educar, nem
fazer melhor, mas é uma culpa que morre solteira, porque é de todos, e
a sociedade não consegue, não quer, não pode assumi-la.
Curiosamente, não é desta culpa maior que os jovens agora nos acusam.
Haverá mais triste prova do nosso falhanço?
Pode ser que tudo isto não passe de alarmismo, de um exagero meu, de
uma generalização injusta.
Pode ser que nada/ninguém seja assim."
4 comentários:
Olá! Gostei muito do texto mas eu com 35 anos com curso superior e sem emprego sinto-me frustrada pois nunca tive nada de mão beijada e fiz muitos sacrifícios profissionais para aprender alguma coisa e ser reconhecida. Trabalhei para pagar a carta de condução, trabalhei para pagar o carro e todas as despesas que o envolvem, trabalhei para pagar todas as despesas do meu curso superior que, embora estatal, não era minimamente gratuito e hoje com 35 anos revolto-me muito por não haver justiça contra os patrões que usam e abusam do recibo verde e não vejo por isso melhorias no meu futuro profissional. Faço parte de uma geração "bem educada", aquela a quem os pais souberam dizer não muitas vezes, mas infelizmente a merda da sociedade em que vivemos meteu-nos na cabeça que ter dinheiro mais mundos e fundos é que é bom, é que é baril. Tens um livro? Bah, és careta. Tens uma playstation? És o maior.
Cuca, concordo plenamente! Vivemos numa sociedade cada vez mais materialista e sabes o que é que me assusta mais? Como será a próxima geração. as crianças de hoje acham que se nasce com computador, telemóvel, tv cabo, iphone, etc, etc. não percebem o que tem de se fazer até lá chegar. está nas nossas mãos mudar isso ;)
E como é que vamos mudar isso? Por exemplo, eu e as minhas irmãs aprendemos a ter as coisas através do trabalho e damos valor à simplicidade mas os meus sogros são totalmente o oposto o que me irrita bastante. São novos ricos e só dão valor às pessoas que ostentam o seu poder económico e assim que vou a casa deles metem o meu filho de dez meses no chão em frente à TV (com o babytv) só para ele e mais uns 50 mil brinquedos à sua volta. Ele fica confuso pois não sabe que brinquedo escolher ou se deve ver a televisão. Por outro lado, a minha sogra está sempre a dizer que está deserta para vesti-lo com roupas de marca com a justificação que lhe quer dar o melhor (como se eu não o quisesse). Agora que estou sem emprego fico com o David em casa e deixo-o sozinho no tapete de actividades com apenas três brinquedos. Quando ele for para o infantário e começar a fazer birra não vai haver educadora que lhe ponha um televisão à frente com o babytv só para ele e muito menos 5o mil brinquedos só para ele, por isso, estou aos poucos a habituá-lo a desenrascar-se sozinho e com pouca coisa pois creio que é desta forma que ele posteriormente se ambientará melhor no infantário.
Já agora, ontem li um texto muito interessante do Nuno Rogeiro na revista Sábado sobre este mesmo tema da geração à rasca. Vais gostar. Sábado nº359, pág.58 bjs
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